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Biodança: a dança da vida

Projeto Cuidar-se
publicado: 31/08/2018 19h35, última modificação: 31/08/2018 19h35

Projeto leva à comunidade uma vida saudável por meio da dança

Todos os dias, Maria Sérgia, moradora do bairro Castelo Branco, na cidade de João Pessoa (PB), sai de casa cedo para participar das atividades físicas promovidas por algumas instituições próximas à sua residência. Nas quintas-feiras, o compromisso dela é com a Biodança, prática que tem como princípio o estímulo e a comunicação das pessoas com o próprio corpo. Essa atividade acontece na Universidade Federal da Paraíba e é promovida pela Coordenação de Educação Popular (COEP) através do projeto “Cuidar-se”, que conta com a participação de discentes de vários cursos da UFPB.

De acordo com Luís de França Pereira, psicólogo e professor de Biodança do projeto, o contato entre as pessoas é a ferramenta fundamental para o desenvolvimento da prática. “Nós promovemos um diálogo por intermédio dos movimentos, porque o corpo fala, comunica e possibilita a interação com o outro, o que, além de ser uma excelente atividade física, é um instrumento de comunicação”, disse.

Dos movimentos aos pensamentos

Apesar de ser um exercício que trabalha com o corpo, a mente torna-se a principal beneficiada, pois os movimentos, segundo Luís França, vêm de um equilíbrio psíquico do próprio ambiente no qual os participantes estão inseridos e do bem-estar mental deles. Dessa forma, antes de contribuir para a saúde física, a Biodança transita na esfera dos pensamentos, facilitando a concentração e o envolvimento do público.

Além disso, ela auxilia na desenvoltura de muitos membros da comunidade. Maria José, também moradora do Castelo Branco, há alguns anos era considerada a pessoa mais tímida do grupo. Ao passo que foi participando dos encontros e, aos poucos, inserindo-se nas atividades, conseguiu enxergar nos colegas uma parceria para a realização dos passos e boas conversas antes e depois da aula.

“Se você me visse há seis anos, nunca imaginaria que um dia eu seria essa pessoa tão extrovertida. O que antes era uma fobia, hoje se tornou uma paixão. Quem disse que eu sabia dançar? Falar? Nem pensar. Agora os meus colegas me imploram para eu dançar devagar e falar menos. Pelo jeito que minha saúde vai, eles terão que me aguentar por um bom tempo. Tem muita música a ser dançada ainda”, afirmou Maria José.

Já Maria Sérgia, que fez questão de expor seus 83 anos de muito bom-humor e saúde, enxerga a idade apenas como um conjunto de experiências adquiridas ao longo do tempo. “Aqui na Biodança é onde me solto e coloco para fora a cantora e dançarina que habitam em mim. A velhice é apenas uma companheira, porque continuo sendo a mesma menina que fui há décadas. Acho que são os movimentos corporais que regem minha vida. A minha mente é a mais sortuda com tudo isso, parece até que quem dança é ela. No final, me sinto levinha, levinha. Como dizem: corpo são, mente sã”, relatou.

Dançar para viver melhor

A bolsista da COEP Laís Ribeiro sente-se satisfeita ao fazer parte de uma equipe que promove em uma comunidade como a do Castelo Branco atividades físicas que vão além do corpo. “Como estudante, sei como é estressante o dia a dia. Apesar de muitos idosos participarem da Biodança, há também os jovens que procuram as aulas. São discentes que buscam uma fuga das pressões cotidianas. Aqui, a dança renova o corpo, a alma e o espírito. Cada passo é um caminho que encontramos para sermos felizes e saudáveis”, contou.

Na porta da Capela Ecumênica estava Wesklayne Peixoto, estudante do 5º período de Fisioterapia da Universidade e bolsista do projeto “Cuidar-se”. Concentrada, ela trazia em si o interesse em acompanhar os participantes e auxiliá-los nos cuidados necessários à correta prática dos movimentos. “Faz um mês que estou no projeto e já me vejo como uma nova pessoa. Fazer o bem ao próximo é uma das práticas mais enriquecedoras que existem. E não são os participantes que ganham com isso, eu também saio cheia de experiências e aprendizados, com a mente tranquila e a sensação de dever cumprido”, disse ela.

Se há os apaixonados pela Biodança, tem também os que amam acompanha-los rotineiramente e dar o incentivo para continuarem. Essa é a função da terapeuta Isolda Matias, que há seis anos auxilia o grupo nas aulas. Na opinião dela, cuidar do corpo é cuidar da mente, e isso ultrapassa os limites físicos. “Quem dança movimenta o corpo, e a energia para esse movimento vem da mente e volta para ela em forma de saúde, alegria e satisfação. Se os pensamentos não são bons, o corpo também não vai ser. Eu acompanho essas pessoas porque é muito gratificante vê-las se desenvolvendo e alegrando os meus dias. Se essas características não forem os milagres da dança, não sei o que são”, declarou.

As quintas-feiras de Maria Sergia são as mesmas há seis anos. A Biodança é o combustível que ela utiliza para realizar as outras atividades do dia. Cheia de vida, considera-se no ápice do sucesso com os seus 83 anos. Quando ouve falar em velhice, afirma logo que é tudo coisa da cabeça, que o pensamento cria. Para ela, não há idade para se movimentar, pois quando o corpo fica parado, a mente não funciona e a vida não tem sentido. O conselho dela para os colegas é que eles dancem, como se fosse crianças; que sem soltem, como se fossem crianças e que vivam, como se fossem crianças.

 

 *Reportagem de Raian Lucas - Bolsista PRAC (2018)