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Literatura Afro-brasileira

Cultura africana na rede pública de ensino
publicado: 10/08/2018 17h39, última modificação: 05/09/2018 14h08

 

Universitários levam a cultura africana aos estudantes da rede pública de ensino 

 

A África está bem perto. Está na cultura; na vida dos brasileiros. Os costumes dos africanos vêm atravessando as fronteiras do tempo e se estabelecendo na sociedade brasileira nos seus mais diversos aspectos: gastronômicos, históricos, religiosos e literários. Contudo, na Literatura, muitas obras afro são desconhecidas pela maioria da população. Contos como “A menina que não falava” e “O homem chamado Namorashota” tornam-se uma novidade diante de um cenário influenciado, em sua maioria, por obras europeias e norte-americanas.  

Com o intuito de levar um pouco da literatura afro-brasileira à comunidade, surgiu o projeto “Leituras e Encantos Africanos e Afro-brasileiros: Uma Proposta Afrocêntrica de Afirmação Identitária”, composto por estudantes do curso de Pedagogia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e coordenado pela bibliotecária Ana Roberta Mota. Também colaborou com o projeto a docente Alba Cleide Calado, do Centro de Educação (CE). A docente colaborou no grupo que estuda o tema e que propôs a ideia de levar atividades de leitura de textos sobre África para os estudantes da Escola Estadual Irmã Severina Cavalcante Souto, localizada no bairro de Jaguaribe, em João Pessoa (PB).

Maria da Conceição, estudante do 4º período de Pedagogia e bolsista do projeto, avalia essa proposta como uma contribuição fundamental para a formação crítica dos alunos, tanto em relação aos aspectos literários da cultura afro-brasileira, quanto do próprio entendimento da história e do papel social deles. “A perspectiva afrocêntrica me fez ver que a população negra e outras etnias até então silenciadas na literatura, ou relegadas a segundo plano, são capazes de construir sua própria história, produzir literaturas. No ensino fundamental, ter leituras que promovam outras formas de olhar para as realidades e possibilitar caminhos que permitam a autonomia e respeito a diversidade é imprescindível”, explicou.   

Nesse sentido, para sensibilizar os alunos a respeito da própria identidade cultural, busca-se enfatizar a cultura e o processo histórico dos povos que fazem parte da miscigenação do Brasil por meio da valorização dos textos literários.

Segundo Ana Roberta Mota, o projeto busca trazer a afirmação identitária do negro na escola. “Inicialmente, realizamos o mapeamento dos acervos da biblioteca da instituição, para avaliar e selecionar as obras que abordam a temática. Após essa primeira ação, pretendemos promover oficinas de leituras de contos africanos e outros gêneros textuais que reforcem a valorização da cultura afro no Brasil. Dessas atividades, surgirão os debates lúdicos entre os estudantes, profissionais da escola e universitários, tudo isso visando compartilhar conhecimentos e contribuir na formação de cada participante”, relatou a coordenadora.  

Na opinião da aluna do 4º ano da escola Irmã Severina, prestar atenção nas exposições e participar das atividades que as “tias” realizarão é dever de todo o corpo escolar. Ela enxerga o projeto como uma oportunidade de aprender mais sobre a cultura de origem africana e aperfeiçoar sua leitura. Além disso, acredita que muitos colegas aprenderão a ler por meio dos ensinamentos que os universitários transmitirão. “Eu quero aprender a ler direito, a respeitar os meus coleguinhas, independentemente da cor deles, os professores, a ser mais educada e passar o que eu aprendi para os outros alunos. Na verdade, quero muito ajudar os africanos, dar carinho, amor e respeito a eles. Também quero ajudar as crianças a aprenderam a ler, porque acho muito importante que todas tenham acesso a leitura”, disse ela.  

Para os professores da escola, a ação traz uma nova visão dos hábitos e valores dos negros, pois enfatiza uma histórica pouco conhecida pelos brasileiros. São contos com narrativas emocionantes e inspiradoras, seguidos de lições de moral fundamentais para o convívio social saudável e equilibrado, vocabulários ricos e uma tradição encantadora.  

Apesar de o projeto estar na fase inicial, os contatos com o corpo escolar já possibilitaram um levantamento do contexto sociocultural de alguns alunos, o que, consequentemente, será utilizado na execução das oficinas de leituras e na interação com o público.  

No conto “A menina que não falava” muitos foram os rapazes que tentaram fazê-la falar, porém sem êxito. Até que um, sagaz, utilizou de uma técnica infalível: a simplicidade. O resultado foi finalmente fazer ela falar. E é com essa simplicidade, por meio de atividades lúdicas, que os extensionistas buscam a capacidade crítica e criativa de cada aluno da escola Irmã Severina. Se muitos estudantes não sabem ler, o objetivo é torná-los leitores, pensadores e cidadãos sensibilizados com relação à luta pela igualdade racial. Assim como no conto, a equipe vai em busca dessa mudança nos indivíduos, principalmente no processo de ensino-aprendizagem. O que os têm em comum é a valorização e difusão dos encantos da literatura afro-brasileira. Como disse a estudante do 4º ano: “É a luta pela valorização de um dos povos mais importantes na história do Brasil”. 


*Reportagem de Raian Lucas - Bolsista PRAC (2018)