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Saúde mental, uma discussão necessária

Projetos de extensão reforçam a importância do diálogo com todas as idades
publicado: 04/09/2020 15h03, última modificação: 04/09/2020 15h03

Projetos de extensão reforçam a importância do diálogo com todas as idades

Mesmo no cenário acadêmico, falar sobre saúde mental é um desafio. Enquanto as gerações mais novas falam da temática com certa naturalidade, o restante da população ainda tem dificuldades para procurar atendimento psicológico. Como saúde mental é importante em qualquer fase da vida, algumas iniciativas da Extensão Universitária estão proporcionando acesso e o cuidado psicológico para todas as idades.

No Brasil, a Reforma Psiquiátrica dos anos1970 é tida como um importante passo para a humanização dos cuidados psicológicos. De acordo com estudo do Brazilian Journal Of Mental Health, houve ampliação nos níveis de informação sobre o adoecimento e o resgate da sensação de dignidade do indivíduo. Outro destaque de popularização da temática é a campanha “Setembro Amarelo”, que surgiu em 2015, com o objetivo de prevenir o suicídio e conscientizar sobre a importância da saúde mental. 

Desse modo, indivíduos de diferentes idades passaram a ter entendimentos distintos sobre cuidados psicológicos. Segundo pesquisa da Mind Share Partners o tema da saúde mental tem reflexo também na maneira como essas gerações encaram a vida profissional. Enquanto pessoas com até 40 anos relataram sofrer de ansiedade e outros problemas de saúde mental em decorrência do trabalho, apenas 10% das pessoas com mais de 45 anos admitiram que esta é uma questão no ambiente de trabalho.

Nesse sentido, criar um canal de diálogo com as instituições e proporcionar um espaço de entendimento das questões de saúde mental é uma demanda cada vez mais recorrente. Na UFPB, o projeto de extensão “Saúde do Trabalhador”, do Departamento de Psicologia do CCHLA, tem o objetivo de levar informação acessível sobre como a saúde mental pode ser afetada pelo ambiente de trabalho.Reunião virtual do projeto 'Saúde do Trabalhador'_Imagem cedida pela equipe_editada

“O profissional precisa do entendimento que aquele sentimento, aquele sofrimento, pode ser em decorrência do trabalho e não é culpa dele. Há uma culpabilização do trabalhador como se ele não conseguisse dar conta ou não tivesse sido bom o suficiente”, conta Thaís Máximo, docente e coordenadora do projeto.

Para Maria Beatriz, bolsista da extensão e estudante de Psicologia, o projeto promove o conhecimento para que “os trabalhadores possam reivindicar ambientes de trabalhos mais saudáveis e serem escutados e validados”. Assim, desde 2014, o projeto tem atuado em contato com os trabalhadores em espaços como o Centro de Referência Estadual de Saúde do Trabalho (CEREST). Atualmente desenvolve cursos de formação on-line para profissionais e sindicalistas que queiram entender aspectos da saúde no trabalho e fornecer acolhimento adequado para aqueles que estão em situação de sofrimento.

Segundo a coordenadora do projeto, é possível observar mudanças nos espaços laborais, sobretudo políticas empresariais que implementaram programas de qualidade de vida no trabalho. “Ainda assim, temos um caminho grande a trilhar. Trabalhamos no sentido de fortalecer a rede e os profissionais que recebem esses trabalhadores para que sejam acolhidos, olhados, escutados e haja intervenções a nível individual, mas também a nível organizacional”, defende Thais.

 Bem-estar da mulher de meia idade

No Departamento de Fisioterapia da UFPB, está sendo executado um projeto que busca articular  o cuidado do corpo com o cuidado da mente. O “Assistência à Saúde da Mulher de Meia Idade” (Amora’s)], coordenado por Juerila Barreto, docente de Fisioterapia e também psicóloga, existe há 13 anos e atende periodicamente um grupo diverso de cerca de 15 mulheres.

Através de rodas de diálogo, a extensão proporciona conhecimento sobre aspectos da vida das mulheres após os 40 anos, trazendo informações sobre o período do climatério, menopausa e pós-menopausa. Ao mesmo tempo, o projeto oferece às mulheres conhecimento de cuidados de bem-estar mental. Essa combinação de informações é benéfica especialmente para as mulheres que amadureceram sem ter a discussão sobre saúde mental como um assunto recorrente.

A coordenadora do projeto conta que a idade pode levar a cristalizar muitos conceitos, mas com empatia e tolerância é possível alcançar todas as usuárias. “Quando perguntamos: ‘Como é o seu dia a dia? O que você tem feito de bom para você? ’, pode ser um oportunidade para a pessoa refletir sobre como está a sua saúde mental”.

Atividade do projeto Amoras em 2019_Acervo da equipe_editadaDurante o período de pandemia da Covid-19, os encontros quinzenais, chamados de “café da tarde”, passaram a acontecer de maneira on-line. Julia Vitória, bolsista do projeto, fala sobre a importância do acolhimento e da formação de uma comunidade: “É um ambiente para que essas mulheres se sintam confortáveis e acolhidas para tratar de assuntos importantes sobre a saúde, que algumas vezes são considerados ‘tabu’, e entender sua própria saúde mental, promovendo bem-estar, uma rotina saudável e até um novo ciclo de amizade”.

“Eu sentia bastante dor e cansaço mental”, relata Maria de Fátima, de 62 anos, que conheceu o projeto ao buscar um atendimento de Fisioterapia no Campus I, da UFPB. “Quando eu conheci o Amora’s, passei a receber mensagens do grupo e participar de atividades diferentes”, completa Fátima, destacando como o projeto traz bem estar e é um momento de distração em meio a uma rotina atarefada.

Já para a animada Ana Lúcia do Nascimento, de 48 anos, o projeto é uma oportunidade de aprender exercícios passados pelas extensionistas e novas maneiras de cuidado: “Eu gosto tanto que, se eu pudesse, levava todas as minhas amigas para participar, para elas aprenderem e verem como é bom cuidar do corpo e da mente”.

 Terapia Comunitária

Outras opções de cuidado da saúde mental são as extensões que oferecem terapia comunitária. Projetos como o Terapia Comunitária na Universidade: tecendo espaços de cuidado” e o “Você Importa!” promovem rodas de diálogo para partilha de angústias e vivências. A terapia de grupo não tem contraindicação e pode ser aproveitada por todas as idades.

Em virtude do isolamento social, essas atividades têm acontecido de maneira on-line, através de plataformas de encontro virtuais. Para participar, não é necessário fazer inscrição, nem manter uma frequência constante, basta acompanhar quando for mais conveniente para o usuário.

Amanda Santos, estudante de Enfermagem e bolsista do projeto “Terapia Comunitária na Universidade”, conta que por muito tempo a terapia ficou restrita aos universitários, professores e comunidade acadêmica, mas uma vez que os mais jovens participam e gostam da experiência passaram a convidar familiares e amigos para participarem também. “Não costumava chegar a informação sobre esses cuidados para esse grupo, mas quando passou a chegar, tivemos muita adesão”, conta.

Os projetos reforçam a importância de tornar a saúde mental uma discussão permanente e não restrito apenas ao mês de setembro. Com as iniciativas que mesclam cuidado físico e psicológico, a extensão contribui para ampliar a percepção sobre a necessidade de proporcionar cuidados de saúde mental para todas as idades.

 

Reportagem de  Ana Lívia Macedo da Costa (Bolsista PROEX 2020), editada por Comunicação PROEX